Blecaute em SP: privatização combina com apagão
Sinergia CUT repudia o processo de privatização que promove precarização das condições de trabalho, queda na qualidade de serviço e apagões, como o que afetou o estado de SP neste início de novembro
Escrito por Débora Piloni 7 de novembro de 2023Leia também: Apagão em São Paulo escancara desastre privatista dos serviços essenciais
O blecaute que atingiu mais de 2 milhões de pessoas na Região Metropolitana de São Paulo na sexta-feira, 03 de novembro, e que ainda não foi totalmente resolvido – quatro dias após os temporais que afetaram regiões do estado – , vem levantando muitas discussões referentes às desastrosas privatizações dos serviços públicos em São Paulo.
Vale aqui ressaltar que a energia em São Paulo é de responsabilidade da Enel, empresa privada com sede na Itália. A antiga estatal Eletropaulo foi adquirida em 2018 pela multinacional Enel. E, por ocasião das chuvas que atingiram o estado, veio o apagão. Três dias depois, ainda quase 500 mil pessoas permanecem no escuro.
Apagões nas áreas da Enel, CPFL, Elektro, Eletrobras… de quem é a culpa?
É certo dizer que, após o processo de privatização do setor de energia no Brasil, instaurado na década de 1990, os brasileiros passaram a conviver com constantes “apagões” e altas de tarifas.
E isso, sem sombra de dúvidas, é resultado da precarização dos serviços, do corte de investimentos e da busca do lucro sobre lucro.
A partir da privatização, as empresas de energia passaram a realizar drástico corte de pessoal, treinamento inadequado e, acima de tudo, um desrespeito para com o serviço que é um bem público. “É sempre bom ressaltar que estamos falando de um setor essencial para o desenvolvimento econômico e social do país. Sem energia não há bem estar de uma população”, afirma a direção do Sinergia CUT.
A consequência disso é a falta do investimento preventivo, redução de postos de trabalho, precarização das condições de trabalho e da qualidade dos serviços, terceirização dos serviços, acidentes e mortes envolvendo trabalhadores e sociedade, aumento de tarifas e apagões. Tudo isso sem as devidas fiscalizações e cobranças pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Vale lembrar que, há três anos, em 3 de novembro de 2020, a população do Amapá estava vivendo o início de um dos maiores apagões da história do país, que se arrastou ao longo dos 22 dias seguintes, dos quais os quatro primeiros em escuridão total e o restante sob regime de rodízio. A concessionária LMTE (Linhas de Macapá Transmissora de Energia) foi responsabilizada pelo ocorrido. Ao longo de todos aqueles dias, o cenário foi de caos. Estoque água mineral, rede hoteleira e postos de combustível viram alta expressiva no consumo em meio ao risco de desabastecimento. Hospitais, escolas, mercados… sofrimento geral para toda uma população. O restabelecimento da situação foi realizado pela intervenção da Eletronorte que, até então, era uma empresa pública.
Outro blecaute de repercussão nesses últimos tempos foi que ocorreu em agosto passado, quando vinte estados do Brasil das regiões Norte, Nordeste e Sudeste e mais o Distrito Federal sofreram um apagão de energia. “Desde que a Eletrobras foi privatizada pelo governo passado os seus trabalhadores vêm lutando contra os ataques da atual direção em seus direitos e a redução drástica do quadro. Além disso, há um desmonte de setores fundamentais para o bom funcionamento da empresa e do atendimento à população. Resultado? Apagão!”, conclui a direção do Sinergia CUT.
Agora, toda a população brasileira acompanha o caso da Enel em São Paulo, que deixa milhares de trabalhadores, residências, comércios e indústrias por dias sem energia causando um prejuízo incalculável à sociedade.
“E para piorar ainda mais a situação, o apagão no Estado de SP afetou também municípios das áreas de concessão das empresas CPFL e da Neoenergia Elektro. E tudo tem o mesmo motivo principal e inicial: a privatização”, concluem os sindicalistas.
Ações: o Sinergia CUT repudia a privatização e a forma como as empresas vêm tratando a concessão pública sem nenhum compromisso com a sociedade brasileira e vem realizando alguns movimentos contra o desmonte planejado pelo governador de SP e para acompanhar o desfecho desse apagão. “Pedimos aos deputados da Alesp a convocação do presidente da Enel, solicitamos uma Audiência Pública em virtude da discussão dos contratos de concessão e também estamos acompanhando o movimento do Ministério Público com relação à questão do apagão”, conta a direção do Sindicato.
Mais privatizações
Mesmo com tantas questões contrárias sendo levantadas sobre privatização das estatais, ainda assim, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) voltou a defender a venda da Sabesp. Além da Sabesp, o governo pretende privatizar todas as linhas do Metrô e da CPTM. Ou seja, irresponsavelmente, o governo de SP quer doar todo estado, jogando no mesmo limbo tudo o que é público.
E, lançado em 05 de setembro, o presidente da CUT-SP disse que as subsedes da central começaram a receber hoje as urnas do Plebiscito Popular sobre as privatizações de Tarcísio. Assim, a apuração dos votos deve começar já nesta terça-feira (7). “Não tenho dúvidas, o povo de São Paulo vai barrar a privatização dessas três empresas tão importantes”.
“A gente tem visto que as empresas assumem um patrimônio do povo de São Paulo e depois não tem nenhum tipo de compromisso. Remetem 100% dos lucros para os seus países de origem, e sem nenhum investimento. Quando investem, vão atrás dos bancos públicos para financiamento. É totalmente contraditório”, afirma a direção da CUT. (com informações da RBA)